
O VENCEDOR
O dia 23 de outubro de 2005 merece entrar para a história do Brasil como uma data tão importante quanto o Sete de setembro ou a Primeira Batalha de Guararapes (19 de abril de 1648).
Naquela memorável data, um povo que é esmagado por uma das maiores, senão a maior, carga tributária do planeta, e que em troca NÃO tem direito a uma aposentadoria decente; NÃO tem um sistema de saúde pública de nível sequer razoável; NÃO tem uma escola decente para seus filhos; e que NÃO tem um mínimo de segurança que o permita andar nas ruas com liberdade, ou permanecer em paz em sua casa se assim o desejar, foi chamado por um Governo inepto e alheio aos anseios do povo a abrir mão de um direito, mais do que um simples direito, lhe pedia que abdicasse da sagrada prerrogativa de defender a si e a sua família.
E o que esta corja de aproveitadores, de sanguessugas de um povo sofrido esperava ouvir senão um sonoro, inequívoco e definitivo NÃO?
Espero que essa vitória tenha sido um divisor de águas entre o que o povo quer e os dirigentes teimam em fazer. Uma linha foi traçada no chão, daqui vocês não vão passar, pensem bem antes de se reunirem em conchavos em Brasília para planejar novas investidas contra nossos direitos.
E a resposta do povo foi acachapante, os batedores de carteira dos direitos do povo, perderam sob qualquer ângulo que se analisem os resultados: perderam no geral, e não foi um ou dois meros pontos percentuais: 59 milhões de brasileiros disseram não. Não uma diferença como disse acima, de um, dois, dez pontos percentuais. A diferença entre os que decidiram lutar e não abrir mão do direito de defesa, e os que se renderam às estatísticas manipuladas, conversa de artistas e testemunhos melodramáticos e sentimentalóides foram acachapantes 28 pontos percentuais!!! Os defensores do SIM perderam em todas as capitais brasileiras, mesmo aquelas como Maceió, que deveriam ter dado um sólido apoio à posição de coestaduano ilustre, o senador e presidente do Congresso Renan Calheiros, segundo na hierarquia do SIM. Maceió deu 51,33% dos votos válidos ao NÃO. Quando se analisa a votação por região a coisa fica ainda mais evidente: o NÃO venceu nas cinco regiões brasileiras sendo que obteve sua maior vitória na Região Sul, com 79,6% dos votos, e a pior performance na Região Nordeste, com 57,1% dos votos. Não paira, pois, dúvida do que o povo pensa e quer sobre o assunto.
E o vencedor é: O POVO BRASILEIRO!!!!
OS DERROTADOS
O Governo – sem dúvida, o maior perdedor foi este governicho incompetente, e aí é preciso incluir o Poder Legislativo, acostumados ambos em negociar votos e apoio em troca de dinheiro. Derrotado foi, em primeiro lugar, o senhor Luiz Inácio Lula da Silva, o homem que não sabia de nada neste mar de fétida imundície que há cinco meses assola o país de uma maneira jamais vista em sua história. Justiça seja feita, de uma coisa o senhor da Silva não sabe: o que pensa e quer o povo que o elegeu. Derrotado foi o Ministro da Justiça, que em vez de construir os presídios de segurança máxima prometidos, passeava pelo Brasil, desperdiçando nosso pouco dinheiro numa Caravana do Desarmamento, a desarmar velhos e viúvas enquanto a bandidagem se abastecia de armas no Paraguai. Esse mesmo ministro, que declarou no Globo de 10/12/04, pág. 10: “A Campanha do Desarmamento tem por objetivo tirar armas das pessoas de bem e evitar maiores tragédias, como brigas no trânsito e nos estádios.”
Imaginem a angústia e a tristeza do ilustre ministro ao saber que 60 milhões de ingratos brasileiros, incapazes de entender a palavra pregada durante a campanha, discordaram de sua douta opinião...
Derrotado foi o Ministro da Saúde, que apresentou às pressas um relatório suspeito para mostrar que no Brasil morrem 40 mil pessoas por ano, vítimas de brigas no trânsito, entre vizinhos e pobres mulheres vítimas de maridos ciumentos, embora o povo leia nos jornais, todos os dias, que jovens estão morrendo na Guerra do Tráfico e o cidadão em assaltos que ocorrem em cada esquina. Um governo de um país que tem uma das mais altas taxas de mortalidade infantil do mundo e que gasta mais em um avião para o presidente passear do que em saneamento, pode perder seu tempo e seguir perguntando o que quiser para o povo. A resposta, óbvia, vai ser sempre NÃO!
As Organizações Globo. Nem mesmo no tempo dos Diários Associados, que foram um poderoso conglomerado de comunicação, uma organização abandonou sua função histórica de informar imparcialmente seus leitores ou telespectadores como o fez a Rede Globo. Essa organização mentiu, distorceu fatos, contou meias verdades, deu voz apenas ao lado que era de sua conveniência. Aqueles que lêem meus artigos neste site estão cansados de saber a que estou me referindo. Para os que me lêem pela primeira vez alguns exemplos: as Organizações Globo abusaram da população ao promover uma passeata e depois usá-la em uma novela, com fins de gerar lucros. Mentiu quando o jornalista Anselmo Góis, que escreve uma coluna de futilidades (a que eu chamo de Diário do Bobo da Corte), na legenda de uma enorme foto do logotipo da campanha do SIM escreveu que se venderam, em um ano, 52.811 armas a cidadãos quando na verdade o número correto é 1.109. Distorceu fatos quando disse que 100 brasileiros morrem por dia vítimas de armas de fogo, sem explicar que a maioria absoluta dos mortos, inclusive noticiados em seus jornais, O Globo e Extra, não eram vítimas de tresloucados cidadãos. Para cada morte por tiros no trânsito que os jornais noticiam, ocorrem dezenas de mortes de policiais, de marginais na Guerra do Tráfico e em assaltos a cidadãos.
O Globo foi alarmista e intencionalmente desinformador ao publicar na edição de 18/03/05, a matéria intitulada “Civis têm quase 10 vezes mais armas que Estado”. Apenas “esqueceram” de informar que, com exceção dos países governados com mão de ferro pelos amigos de Lula, todos os países democráticos têm mais armas de fogo em mãos de cidadãos do que do Estado. Isto é algo natural e esperado. Não satisfeito, o jornal da família Marinho iniciou uma campanha de desmoralização da turma do NÃO, primeiro apelidando-a de “lobby da armaria”, para depois aumentar o insulto passando a chamá-la pelo depreciativo “bancada da bala”. Agora, sobre as gordas verbas que o Viva Rio e o Sou da Paz recebem de governos estrangeiros, de fundações como a Soros, Rockfeller, Ford e Small Arms Institute, nem uma palavra... Colocou a serviço da causa o jornalista Luiz Garcia, um empolado e vazio malabarista de idéias confusas, que teve o despudor de criticar o governo por não dar uma “mãozinha” aos opositores ao direito de defesa, no momento em que tocou o desespero na turma do SIM ao chegarem os resultados das pesquisas de opinião. Para as Organizações Globo o que importa é ganhar, mesmo que para isto seja necessário envolver o Governo. Na sua insana miopia, não percebe que hoje o governo está mais para saco de pancadas do que para aliado.
Entre 23 de dezembro de 2003, quando passou a vigorar o Estatuto do Desarmamento, até 17/9/05, quando deixou que publicasse na importante página 7 do jornal um artigo do filósofo Denis Rosenfield, dando um entusiasmado e bem construído apoio ao NÃO, essa prestigiada página era monopólio da turma do SIM. Mas para não deixar passar em branco a ousadia do prof. Rosenfield, o Globo encomendou uma resposta a um obscuro pesquisador do IUPERJ e que foi devidamente publicada na mesma pagina 7 em 26/09/05. Do deputado Luiz Piauhylino ao senhor Antonio Rangel Bandeira, do Viva Rio, qualquer um que tivesse algo a dizer contra o direito de autodefesa tinha espaço garantido ali.
O desplante e o desrespeito pelos leitores atingiram o fundo do poço em uma entrevista concedida pelo melífluo senhor Rubem César Fernandes, diretor do Movimento Viva Rio, à repórter Tais Mendes, publicada em O Globo de 05/03/05, pág. 21. O senhor Fernandes fez uma apaixonada defesa de William de Oliveira, presidente de uma organização de moradores da favela da Rocinha e acusado de ligações com o tráfico. Para defender seu protégé, envolvido no acobertamento do furto de fuzis do Exército, o senhor Fernandes comete o absurdo de afirmar que “Mentira não chega a ser crime”. Como, ao contrário de O Globo, a justiça não concorda com o senhor Fernandes, o dirigente comunitário acabou na cadeia.
ONGs – No Brasil, duas ONGs tiveram papel preponderante nos 21 meses que decorreram entre a aprovação da Lei No. 10.826 e o começo da campanha. Durante esse longo período foram senhores absolutos do tempo e do espaço nos meios de comunicação. Alimentados por fartas verbas dos governos brasileiro e inglês, e gozando da simpatia da mídia, eles escreveram, deram entrevistas, mostraram estatísticas deformadas, ameaçaram a sociedade com o fogo do inferno e tiveram o irrestrito apoio do governo participando ativamente da Campanha do Desarmamento. Interessante é que recolhiam armas em toda a parte, mas nunca ouvi dizer de uma só de suas barraquinhas sendo instalada em uma só das favelas do Rio. Desde apoiar marginais até dar explicações tolas e descabidas, a trêfega rapaziada do Viva Rio e do Sou da Paz teve amplo e irrestrito apoio. Se quiserem que o dinheiro dos patrocinadores continue jorrando, será bom abraçar outras causas. Tenho até uma sugestão: por que não iniciar uma campanha contra as 40 mil mortes anuais no trânsito? Poderiam também iniciar uma campanha para que a carteira de motorista seja concedida apenas aos maiores de 25 anos. Afinal, já conseguiram isto na estapafúrdia Lei No. 10.826. A apoiar essa proposta existe o forte argumento de que 41% dos envolvidos em acidentes de carro têm entre 18 e 30 anos. Segundo a revista Veja (30/4/2003), 65% dos leitos dos hospitais de emergência são ocupados por vítimas de acidentes de trânsito. Por que não tentam uma parceria com a Globo? Pensando bem, é melhor esquecer o assunto. A briga não seria com três fabricantes de armas e um de munição. Aqui a coisa seria com a poderosa indústria automobilística e os bancos que ganham fortunas financiando carros com os juros mais altos do mundo. Posso estar enganado, mas o pessoal da Globo não é doido para embarcar numa canoa destas... Que tal então iniciar uma campanha contra a produção e exportação de fumo? É uma boa campanha erradicar as plantações de fumo. De acordo com a ONU, essa organização trabalha nos detalhes finais de um tratado global contra o fumo. Antes de entrar nessa, algumas informações: o Brasil é o maior exportador de fumo do mundo. São 200 mil famílias dependentes desse negócio, que em 2002 gerou divisas da ordem de 1 bilhão de dólares. Melhor deixar de lado essa idéia também... Mas é bom pensar rápido, rapaziada!
A Causa do SIM - Creio que aqui está o verdadeiro cerne do problema (deles). A causa do SIM é uma infeliz combinação de um grupo de incompetentes, associados a uma causa muito ruim e impopular. Como é possível entender que o Viva Rio e o Sou da Paz, que tiveram 21 meses para fazer e dizer o que bem quisessem, com apoio de governos estrangeiros, fundações, das Organizações Globo, do Presidente da República e do Congresso, dos ministérios da Justiça e da Saúde, de prefeitos como José Serra e o indisfarçado apoio da maioria da imprensa; e que menos de dois meses atrás tinham 80% da intenção de voto conseguiram, qual um atoleimado Golias, perder a batalha para um pequeno grupo de Davis? E não perderam por um fio de barba. Perderam de uma forma acachapante, humilhante e definitiva. Não é difícil perceber a incompetência dessa gente, lendo o que eles declaram. Vejam o que disse o senhor Denis Mizne, do Sou da Paz, ao Globo de 24/10/05, pág. 10. Ainda com o traseiro ardendo com o forte ponta-pé que lhe infligiu o povo brasileiro, o doutor Mizne desabafou: “Agora o pessoal do“Não”, que nunca trabalhou nem nunca vai trabalhar pela segurança pública no país, pode pegar seu chequinho nas grandes fábricas de armas e seguir como se nada tivesse acontecido.” Ao fazer uma afirmação caluniosa, o senhor Mizne deveria lembrar que a organização que ele dirige foi proibida pelo TSE de participar da campanha do referendo por ser financiada por grupos e instituições estrangeiros, de onde chega, não um chequinho, mas um saco de dinheiro. Segundo, porque não acredito que dar irrestrito apoio a marginais que se envolvem em roubo de armas do Exército, como o fez seu colega do Viva Rio, seja trabalhar pela segurança pública.
Agora a obra-prima da explicação tola, da falta de discernimento dessa gente, de sua absoluta incapacidade de enxergar as coisas como elas são, aconteceu em finais de fevereiro desse ano, quando o Instituto Census/CNT publicou uma pesquisa mostrando que o NÃO tinha na época 48,8% das intenções de voto. A gerente de mobilização do Sou da Paz se saiu com esta cândida explicação para os resultados da pesquisa, explicação que foi publicada no Globo de 27/2/05, pág. 16: “Muita gente apóia o desarmamento, mas tem dúvida sobre a proibição porque acha que as fábricas serão fechadas”. Felizes são os funcionários da Taurus e da CBC que têm o apoio e a proteção de 60 milhões de brasileiros. Nem o Lula, com uma dinheirama de origem suspeita, e toda a enganação montada pelo Duda Mendonça, conseguiu isto.